Proposta visa enquadrar vício em redes sociais como transtorno mental

Vício em redes sociais

Um grupo de cientistas dos Estados Unidos está propondo classificar como transtorno mental o vício em redes sociais por parte de adolescentes. A iniciativa foi publicada nesta semana na revista científica JAMA, e defende que o vício em plataformas digitais seja incluído nos principais manuais diagnósticos da medicina, como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e a CID (Classificação Internacional de Doenças).

A proposta se baseia em um estudo liderado pela pesquisadora Lauren Hale, da Universidade de Stony Brook, em Nova York, que analisou os impactos do uso excessivo de telas na vida de adolescentes. Em parceria com o pediatra Dimitri Christakis, da Universidade de Washington, Hale propõe uma escala semelhante à utilizada no diagnóstico do alcoolismo, avaliando o tempo de uso, as consequências sociais, escolares e emocionais, e os sinais de prejuízo funcional causados pelo comportamento digital compulsivo.

“Introduzir essa classificação não poderia ser mais urgente”, afirmam os autores. Segundo eles, mais de 6 milhões de adolescentes americanos já apresentam sintomas que se enquadrariam no que chamam de “transtorno de uso de mídia“.

A proposta ganhou visibilidade justamente por tentar criar critérios objetivos para um fenômeno que, até agora, era amplamente discutido, mas pouco padronizado no campo médico. Os pesquisadores argumentam que, sem uma nomenclatura clínica reconhecida, é difícil formular políticas públicas, estruturar tratamentos ou mesmo obter reembolsos de planos de saúde.

Enquanto o transtorno não é oficializado, vale destacar que instituições de saúde pública e associações pediátricas já oferecem recomendações práticas para pais e cuidadores em relação à tecnologia. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, sugere que:

  • Crianças com menos de 2 anos evitem totalmente o uso de telas;
  • Entre 2 e 4 anos, o uso deve ser limitado a uma hora por dia, sempre com supervisão;
  • Para adolescentes, a orientação é que o uso não atrapalhe sono, estudos, esportes e interações presenciais.

Portanto, ainda que a a classificação proposta não seja imediatamente incorporada ao DSM ou à CID, ela já cumpre um papel importante: o de chamar ainda mais atenção para os efeitos reais e crescentes que o vício em redes sociais e o uso descontrolado da tecnologia têm sobre a saúde mental de crianças e adolescentes.

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