Guilherme Serrano
Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, revelou que o vício em celular pode estar relacionado a transtornos como ansiedade, depressão, estresse e distúrbios alimentares.
O coordenador da pesquisa, professor Eric Francelino Andrade, especialista em Fisiologia Humana, explica que existe uma relação mútua entre o uso excessivo do smartphone e o aumento da ansiedade. Ou seja: o indivíduo dependente de celular tende a ser mais ansioso e o contrário também ocorre, com a ansiedade gerando maior dependência do aparelho.
De acordo com Andrade, embora os transtornos mentais sejam multifatoriais, ou seja, não é possível atribuir exclusivamente o uso do celular como causa desses problemas, a pesquisa encontrou uma associação entre o vício e níveis elevados de depressão, ansiedade e estresse.
Além disso, foi observado que os dependentes de celular apresentam menor nível de atividade física, o que indica uma relação inversa entre o uso do smartphone e o engajamento em atividades físicas.
O estudo envolveu 781 estudantes de universidades públicas e privadas de todo o Brasil, com idades entre 18 e 65 anos, sendo 410 homens e 371 mulheres. As informações foram coletadas em 2023 por meio de um formulário online, e a análise estatística foi realizada neste ano.
Para avaliar a dependência, foram considerados quatro critérios
- Tempo diário de uso do celular
- Tempo sem o aparelho
- Perda de noção do tempo durante o uso
- Aumento da tolerância ao tempo de exposição ao longo do período.
Um escore superior a 10 pontos em uma escala de até 26 indica dependência do celular.
Em alguns casos, a necessidade constante de usar o celular pode até gerar sintomas físicos. Uma estudante que participou da pesquisa relatou que a ausência do celular lhe causa palpitações e uma sensação de aceleração do coração, como se tivesse perdido o aparelho. Ela acredita que esse comportamento contribui para o aumento de pensamentos acelerados e ansiedade.
Além disso, o uso excessivo das redes sociais pode impactar a percepção da imagem corporal, já que o vício em celulares foi associado à insatisfação com o corpo, fator que pode desencadear distúrbios alimentares.
A pesquisa utilizou uma escala de silhuetas para medir a insatisfação corporal dos participantes, comparando a imagem do corpo real com a imagem desejada. A diferença entre essas duas respostas indicava o grau de insatisfação, que, quanto maior, estava relacionado a um maior desejo de mudar a aparência corporal.
A pesquisadora Karen Rodrigues Lima defende que o estudo seja usado como referência para profissionais de saúde mental e nutricionistas, uma vez que o vício em celular é pouco investigado nas consultas, mesmo tendo um impacto significativo no bem-estar dos pacientes.