Tempo de tela não é único fator que favorece vício digital

Tempo de tela

Quais adolescentes estão mais propensos a desenvolver uma relação nociva com as redes sociais? Um novo estudo ajuda a responder essa pergunta, e aponta que os fatores de risco vão além do tempo de tela excessivo. Segundo os autores, aspectos como baixa percepção de apoio social e maior tendência à comparação online são os principais prognósticos do uso problemático de plataformas como Instagram e TikTok.

A pesquisa publicada na revista PLOS One acompanhou 403 adolescentes, de 13 a 18 anos. A análise estatística permitiu identificar três perfis distintos de uso:

  • Grupo saudável (58%): adolescentes com baixos níveis de “vício” em redes sociais e uso moderado de Instagram e TikTok;
  • Grupo engajado (16%): jovens que passam mais tempo nas plataformas (especialmente no Instagram) mas sem sinais consistentes de dependência;
  • Grupo mais vulnerável (25%): adolescentes com padrões estáveis e elevados de uso problemático, principalmente no TikTok, chegando a cerca de cinco horas por dia.

Embora o tempo de uso seja um dado relevante, os pesquisadores chamam atenção para fatores subjetivos. Os adolescentes mais vulneráveis relataram menos apoio social na vida offline e maiores níveis de comparação com os outros nas redes, especialmente com relação à aparência. “O que prediz uma relação disfuncional com as redes não é apenas quanto se usa, mas como e por quê”, explicam os autores.

Outro achado importante é que adolescentes do sexo feminino foram mais propensos a integrar o grupo de risco. A literatura científica sobre o tema já aponta que meninas tendem a usar redes sociais com foco em comunicação interpessoal e validação social, o que pode favorecer a comparação e afetar a autoestima.

Fato é que a adolescência é uma fase crítica do desenvolvimento, marcada por transformações emocionais e busca por identidade. Nesse contexto, as redes sociais exercem grande influência, tanto positiva quanto negativa. Elas podem funcionar como um canal de socialização, mas também como um ambiente de competição simbólica, explica a pesquisa.

O estudo também mostra que o uso problemático das redes não é estático. Em parte dos adolescentes, os níveis de dependência oscilaram ao longo dos meses, sugerindo que o contexto social (como rejeição de pares ou necessidade de aprovação) pode acentuar ou amenizar o problema em períodos curtos.

Diante dos dados, os autores recomendam atenção não apenas ao tempo de tela, mas também à qualidade das interações online e à rede de suporte emocional disponível no mundo offline. Famílias, escolas e profissionais de saúde mental têm um papel fundamental nesse processo, inclusive ao ajudar adolescentes a desenvolver habilidades de regulação emocional e senso crítico diante das redes.

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