Guilherme Serrano
Não é raro ver casais em restaurantes sem trocar uma palavra, amigos reunidos em silêncio ou familiares mais atentos às telas do que às conversas. Esse comportamento tem nome: phubbing.
A palavra é a junção dos termos em inglês phone (telefone) e snubbing (esnobar), e descreve o ato de ignorar pessoas ao redor para dar atenção ao celular. Criado pelo dicionário australiano Macquarie, o termo vem sendo estudado por especialistas devido ao impacto nas relações interpessoais.
Um estudo publicado na revista Computers in Human Behavior, conduzido pelos psicólogos turcos Suat Kılıçarslan e İzzet Parmaksız, entrevistou cerca de 700 pessoas entre 20 e 60 anos e descobriu que o phubbing está diretamente ligado à insatisfação conjugal. A falta de escuta ativa e empatia gerada pelo uso excessivo do celular prejudica a conexão emocional dos casais.
Além dos relacionamentos amorosos, o phubbing também impacta as relações familiares e sociais. Crianças ignoradas pelos pais, chamadas de phubbed children, tendem a desenvolver maior dependência do celular, podendo apresentar comportamento hostil online, como cyberbullying, e até mesmo esgotamento acadêmico.
O uso excessivo do celular não só compromete relacionamentos, mas também pode estar associado a transtornos psicológicos. Estudos indicam que o phubbing pode agravar quadros de ansiedade e depressão, além de contribuir para o desenvolvimento da nomofobia, o medo irracional de ficar desconectado do celular. A normalização desse comportamento também perpetua ciclos de isolamento social e dificuldade de comunicação.
Apesar de ser um comportamento comum, há formas de reduzir os impactos do phubbing e fortalecer as relações interpessoais. Algumas estratégias incluem:
- Praticar a escuta ativa – Prestar atenção e interagir com quem está falando ajuda a fortalecer os laços emocionais.
- Estabelecer momentos de qualidade – Criar regras como não usar o celular durante refeições ou em encontros especiais.
- Reconhecer e elogiar – Reforçar atitudes positivas no relacionamento aumenta o engajamento entre os parceiros.
- Aumentar o tempo de resposta – Evitar responder imediatamente a todas as notificações reduz a dependência do aparelho.
- Estabelecer limites – Determinar horários ou ambientes livres de celulares para priorizar a interação pessoal.
- Manter o contato físico – A proximidade física fortalece a conexão emocional e reduz a necessidade de distrações digitais.
Embora o phubbing seja um problema, o celular não precisa ser um inimigo dos relacionamentos. Quando utilizado com equilíbrio, o dispositivo pode aproximar casais, amigos e familiares, permitindo maior conexão e momentos compartilhados, seja por meio de mensagens carinhosas, chamadas de vídeo ou o registro de memórias. O segredo está no uso consciente da tecnologia, garantindo que ela complemente e não substitua as interações humanas. Afinal, nenhuma notificação é mais importante do que estar presente para aqueles que realmente importam.
Guilherme Serrano