Guilherme Serrano
De acordo com estudo liderado pelo pesquisados Dar Meshi, da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, a dependência de redes sociais, caracterizada por comportamentos compulsivos, alterações de humor e sintomas semelhantes aos de abstinência, tende a tornar os usuários mais propensos a acreditarem e compartilharem fake news.
O levantamento, considerado pioneiro por investigar diretamente a relação entre dependência digital e desinformação, analisou o comportamento de 189 jovens adultos, com idades entre 18 e 26 anos. Os participantes foram expostos a 20 postagens simuladas de redes sociais, sendo metade delas composta por conteúdos verídicos e a outra metade por fake news. Em seguida, foram avaliados segundo seu nível de interação com as publicações: como curtir, comentar, compartilhar e clicar, e também por meio de um questionário que media o grau de uso problemático das redes.
Os resultados mostram um padrão preocupante: quanto maior a dependência das redes, marcada por comportamentos como necessidade de aprovação social, dificuldade de ficar offline e conflitos causados pelo uso excessivo, maior a chance de engajamento com conteúdos falsos.
“A teoria é que pessoas mais impulsivas, um traço comum entre usuários com uso problemático, acabam sendo menos criteriosas ao consumir informação”, explica Meshi.
Ou seja: o hábito de rolar o feed de forma compulsiva pode comprometer não só o senso crítico, mas também transformar o usuário em um elo na cadeia de propagação da desinformação.
Embora o uso compulsivo de redes sociais ainda não seja oficialmente reconhecido como transtorno clínico, os pesquisadores o comparam a vícios comportamentais como a dependência de jogos ou substâncias químicas. Entre os sintomas observados estão:
- Mal-estar ao ficar desconectado
- Recaídas após tentativas de reduzir o uso
- Impactos negativos na vida acadêmica ou profissional
Esses sinais indicam que o problema vai além do consumo de entretenimento e afeta a saúde mental, o raciocínio crítico e até a responsabilidade social do indivíduo.
Para Meshi, o impacto desse comportamento ultrapassa o campo da saúde individual:
“Estamos falando também sobre o papel dessas pessoas na cadeia de disseminação de desinformação”, alerta.
O pesquisador sugere ainda que plataformas como Instagram, Facebook e Google poderiam atuar ativamente na mitigação do risco ligado às fake news e o vício digital, desenvolvendo soluções adaptadas para usuários em situação de vulnerabilidade digital.
Guilherme Serrano