Guilherme Serrano
Um levantamento recente da ONG SaferNet revelou que os emojis estão sendo ressignificados por grupos que promovem discursos de ódio, assédio e até abuso sexual. E isso, muitas vezes, sem que a maior parte dos usuários perceba.
Uma reportagem exibida pelo Jornal Nacional, na Rede Globo, trouxe à tona o uso cada vez mais estratégico de emojis por perfis ligados a práticas criminosas e extremistas. Segundo a SaferNet, nos últimos dois anos, houve um aumento de 35% no número de emojis, palavras, siglas e hashtags em português utilizados com conotação de ódio ou conteúdo sexual. Em 2023, eram 963. Agora, já passam de 1.300.
Esses emojis, à primeira vista inofensivos, ganham significados alternativos dentro de grupos fechados, servindo como códigos para dificultar a identificação por autoridades, pais e educadores. “Vejo muito gente usando emojis para se referir a coisas ofensivas”, contou João Carlos Lacerda, de 16 anos, ao Jornal Nacional.
O presidente da SaferNet, Thiago Tavares, explicou que a ONG desenvolveu uma ferramenta baseada em inteligência artificial e aprendizado de máquina para identificar esses padrões. O objetivo é rastrear redes de disseminação de conteúdo extremista e auxiliar investigações.
O perfil predominante de quem utiliza esses códigos de ódio é jovem, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais. A Secretaria Nacional de Segurança Pública tem atuado em parceria com os estados para mapear e reprimir esses crimes, com o apoio de delegacias especializadas.
Mas especialistas destacam que a resposta precisa ser multissetorial. Famílias, escolas e a sociedade em geral têm um papel fundamental. Em uma escola de Belo Horizonte, por exemplo, alunos e professores criaram um grupo de apoio para acolher vítimas e discutir formas de reagir às agressões virtuais.
“Quando é necessário e o aluno permite, a gente chama a família para acabar com qualquer tipo de constrangimento”, disse a diretora Zuleica Ávila.
Para evitar que o emoji do foguinho ou da carinha piscando, por exemplo, escondam ameaças, é fundamental que pais e responsáveis estejam atentos ao que os filhos veem e compartilham nas redes. A empresária Michele Duarte, que falou à reportagem do JN, por exemplo, instalou aplicativos de monitoramento nos celulares dos filhos. Para ela, o gesto é mais do que vigilância: é cuidado.
“Eu levo isso como um apoio. Mostra o quanto minha mãe me ama”, afirmou Cauan Sales, de 17 anos.
A ressignificação dos emojis mostra uma evolução rápida da linguagem digital, que traz consigo muitos riscos. E para enfrentá-los, é preciso diálogo e uma educação digital que direcione jovens a um uso mais consciente das redes sociais.
Guilherme Serrano