Guilherme Serrano
Apesar da proibição formal de plataformas como Instagram, TikTok e WhatsApp para menores de 13 anos, a realidade digital brasileira está longe de seguir as regras. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, 60% das crianças de 9 a 10 anos que usam a internet já têm conta em redes sociais. Entre os usuários de 9 a 17 anos, esse número salta para 83%.
Os dados, levantados pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), escancaram uma verdade desconfortável: a presença massiva de crianças nas redes sociais não está acompanhada da maturidade digital necessária e nem da supervisão adequada.
A pesquisa entrevistou 2.424 crianças e adolescentes e seus respectivos responsáveis. Entre os destaques, 29% dos jovens relataram já ter passado por situações desagradáveis ou incômodas na internet, como ofensas, exposição de imagens ou interações indesejadas. E o mais preocupante: 13% disseram não ter contado para ninguém o que viveram.
Mesmo entre os que buscaram apoio, os dados mostram uma distância entre o mundo virtual e o mundo adulto: apenas 31% procuraram os pais ou responsáveis. Outros preferiram amigos (29%), irmãos ou primos (17%), ou simplesmente silenciaram a experiência.
O levantamento também mostra que 93% da população de 9 a 17 anos no Brasil usa a internet, com 98% acessando principalmente pelo celular. O computador, ferramenta mais comum em ambientes de aprendizado formal, é usado por apenas 37%.
As plataformas mais utilizadas diariamente são:
- WhatsApp: 71%
- YouTube: 66%
- Instagram: 60%
- TikTok: 50%
Além do alto consumo, surgem sinais claros de dependência: 24% dos jovens de 11 a 17 anos afirmaram ter tentado reduzir o tempo online e não conseguiram. E 22% disseram que, devido ao uso excessivo, passaram menos tempo com a família, amigos ou se dedicando aos estudos.
Outro dado preocupante: 30% dos entrevistados já conversaram na internet com alguém que não conheciam pessoalmente, o que representa um risco direto à segurança infantil online.
A TIC Kids Online 2024 mostra que o debate sobre o uso consciente das redes sociais por crianças e adolescentes precisa ir além do discurso. É necessário criar ambientes digitais mais seguros, reforçar o papel ativo dos responsáveis e cobrar mais responsabilidade das empresas de tecnologia na verificação de idade e na criação de mecanismos de proteção.
Guilherme Serrano