Guilherme Serrano
Com um investimento publicitário enorme, as bets impactam boa parte dos brasileiros, independentemente de suas idades, seja através da televisão, do rádio ou das mídias sociais. Pensando nisso, o governo federal, por meio da Advocacia Geral da União (AGU), notificou extrajudicialmente o YouTube, TikTok, Kwai, Instagram, Facebook e o Google para que as plataformas expliquem medidas adotadas para evitar que a publicidade dessas casas de aposta chegue às crianças e adolescentes.
No caso do Google, a notificação se dá sobretudo por conta dos resultados das pesquisas feitas no buscador. O objetivo da AGU é entender como a plataforma evita que conteúdos de bets sejam apresentados ao público infantojuvenil, especialmente quando esses usuários estão logados em suas contas no Google.
Além disso, os controles existentes para evitar que os jovens tenham acesso a links que direcionem para sites de apostas também são questionados. Assim, a AGU solicita informações que esclareçam se os termos de uso da plataforma incluem regras específicas para proteger o público menor de idade neste contexto.
É importante destacar que, segundo a legislação brasileira, a publicidade de jogos de azar não pode ter como alvo crianças e adolescentes. Além disso, a participação de menores de 18 anos nesses jogos também é proibida.
Recentemente, a Mobcon conversou com o psicólogo Mateus Gottschal e Sá para entender mais sobre o crescimento do vício em bets, situação que, segundo o profissional, já é tratada como questão de saúde pública.
O papel da publicidade nesse contexto também merece ser discutido. De acordo com o psicólogo, o fato das propagandas de bets estarem sendo veiculadas o tempo inteiro pode contribuir para que pessoas que têm uma pré-disposição desenvolvam ainda mais esse vício.
“A propaganda e a mídia podem ser consideradas gatilhos para quem já tem o problema comportamental do transtorno do jogo. Porque a pessoa tem dificuldade de se desligar daquilo. Então, quando a gente trabalha com pessoas que têm esse tipo de dependência, o objetivo é diminuir ao máximo o contato dela com o que pode ser problemático”, explica.
Evidentemente, a abordagem feita pela publicidade é sempre positiva em relação às casas de apostas, o que também significa um problema para quem está sendo exposto àquele conteúdo.
“Essa publicidade sempre vai falar de um jeito positivo e muito atraente, seja para quem consome, seja para quem ainda não consome. A propaganda é feita para estimular a vontade, o interesse, a curiosidade…Então, querendo ou não, isso contribui”, diz o psicólogo.
Pensando nisso, o passo dado pelo governo parece importante para entender melhor e mitigar os riscos relacionados à exposição de jovens e crianças às massivas propagandas sobre bets no Brasil.
Guilherme Serrano