Telas e redes sociais na infância: qual é o limite saudável? 

Redes sociais na infância

O Ministério da Educação (MEC) está finalizando um projeto de lei que prevê a proibição do uso de celulares em escolas do país, e a medida jogou luz na discussão sobre a o excesso de telas e redes sociais na infância. Profissionais da saúde defendem uma restrição, mas a pressão social de um mundo extremamente conectado faz com que os pequenos mergulhem nas redes cada vez mais cedo.

A psicóloga pós-graduanda em psicoterapia da infância Lavínia Serra explica que o ideal para um bebê é que ele não use nenhuma tela antes dos 18 meses de idade. Depois disso, essa exposição pode ser feita de forma gradual e supervisionada.

Mas é aí que o desafio já começa. Isso porque, muitas vezes, esses aparelhos funcionam como aliados dos pais para facilitar na rotina. Afinal, quem nunca viu um bebê se acalmar de forma imediata ao receber um tablet exibindo a Galinha Pintadinha?

“Não adianta a gente querer tirar o entretenimento daquela criança sem oferecer outras ferramentas. Então é preciso proporcionar, por exemplo, atividades ao ar livre, alguma atividade extracurricular que a criança goste. E explicar o quanto é importante a criança estar no tédio, pois ele é um grande aliado para o desenvolvimento cognitivo”, diz.

Já em relação às redes sociais, a idade mínima permitida é de 13 anos de idade. Esse limite é definido pelas próprias plataformas, embora seja fácil burlar a regra. A Ofcon, agência reguladora dos serviços de comunicação do Reino Unido, por exemplo, apontou recentemente que 30% das crianças entre 5 e 7 anos de idade já estão no TikTok. Evidentemente, essa exposição traz muitos riscos a essas crianças, tanto no aspecto biológico quanto no social.

“Biologicamente, a criança está passando por uma fase crucial de desenvolvimento. Então isso pode atrapalhar uma série de coisas, como a capacidade de regular emoções, tomada de decisões…E na parte social, existem os riscos dessa criança estar exposta a conteúdos impróprios ou questões como cyberbullying e assédio”, explica.

Geração ansiosa x redes sociais

Nessa linha, um estudo publicado pelo Financial Times mostra que, a partir de 2010, problemas como depressão e baixa autoestima entre os jovens passaram a aumentar. O mesmo estudo indica que foi a partir daquele mesmo ano que o uso de smartphones pelos jovens disparou.

“Aquela vida perfeita que é colocada no Instagram e em outras redes faz com que os jovens entrem em um ciclo de comparação que acaba acarretando quadros de depressão, ansiedade e baixa autoestima. Porque nas redes a vida é sempre maravilhosa, mas tem aquela parte escura e negativa que a gente deixa escondido para fora das telas”, diz Lavínia.

Outro problema muito latente citado pela psicóloga é a dificuldade de concentração. A maior parte das redes, como TikTok, YouTube e Instagram, usa uma lógica de vídeos curtos. Essa dinamicidade provoca liberações muito rápidas de dopamina, que é o hormônio do prazer, da felicidade, da satisfação. Por outro lado, isso vai estimulando uma dificuldade de concentração muito grande, que pode atrapalhar a criança na escola e, futuramente, no trabalho.

“Hoje, o Brasil é o país com o maior número de pessoas diagnosticadas com ansiedade em todo o mundo. Então a gente precisa entender o porquê isso vem crescendo tanto, mas sem dúvida existe relação com o fato de a atual geração crescer imersa na tecnologia e nas redes”, afirma.

Beco sem saída; ou melhor: feed infinito

Diante disso, parece ser possível concluir que as telas e as redes sociais só oferecem malefícios e a solução é cortá-las de vez. No entanto, o caminho não é exatamente esse.

Lavínia Serra explica que a criança precisa de identificação e de uma troca com seus pares para que tenha um bom desenvolvimento da sua personalidade e que possa se reconhecer como um indivíduo pertencente daquele meio. Com isso, privá-la das redes pode resultar em um sentimento de não pertencimento frente às outras crianças.

“Deixar a criança à margem disso pode criar um isolamento social muito grande, o que se traduz em uma dificuldade de se conectar e se identificar com outras crianças. Como resultado, temos também baixa autoestima, ansiedade e depressão”, afirma.

Em contrapartida, diz a profissional, a criança precisa ser estimulada a ter uma boa comunicação frente a frente desenvolver habilidades sociais, para que reconheça as suas próprias emoções e as emoções dos outros, a fim de criar maturidade.

“Nas outras gerações, a criança se entretinha de outras formas, brincava na rua, exercia a criatividade dentro de casa, e isso é importantíssimo para o desenvolvimento cognitivo. Então é importante explorar outras possibilidades e deixar que a criança se descubra no mundo, descubra como ela pode brincar com outras coisas. Isso é um grande benefício”, explica.

Equilíbrio é a chave

Em suma, a psicóloga destaca que o uso das redes sociais na infância não pode ser colocado em um teor negativo ou pejorativo. Afinal, ele é uma realidade e pode ajudar as crianças em outros sentidos sentidos, desde que utilizadas de forma consciente.

O equilíbrio, portanto, é a chave. Lavínia destaca a necessidade do acompanhamento e monitoramento do que está sendo feito por essas crianças nos celulares ou demais aparelhos.

Alguns recursos que podem ajudar nessa gestão são ferramentas de controle de tempo oferecidos pelas próprias redes sociais e aplicativos que mostram quais são as plataformas mais acessadas pelo usuário.

Acima de tudo, diz a psicóloga, o diálogo é fundamental. É preciso que os pais conversem com seus filhos e lhes expliquem os riscos envolvidos em cada tipo de situação, a fim de que se crie uma relação mais harmoniosa com a tecnologia.

“Na minha percepção enquanto psicóloga, a questão está em encontrar o equilíbrio no uso das redes sociais na infância e criar um ambiente em que a criança possa aprender a fazer um uso saudável de todas essas tecnologias de forma benéfica, e não prejudicial”, completa.

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