Guilherme Serrano
Vivemos na era da hiperexposição. Conquistas, refeições, viagens…Tudo parece digno de um post. Mas até que ponto dividir nossa vida nas redes sociais é saudável? Quando o hábito de compartilhar se transforma em excesso, temos o oversharing.
Oversharing é o ato de compartilhar informações pessoais demais nas redes sociais, de forma frequente ou desnecessária. Pode ser um desabafo íntimo, uma sequência de detalhes sobre a rotina ou até revelações sobre relacionamentos, finanças ou questões familiares.
É importante destacar que não há uma regra rígida sobre “o que pode ou não pode” ser publicado. O problema está no nível de exposição e nas possíveis consequências emocionais, sociais e até profissionais desse comportamento.
Existem várias razões para o oversharing. Algumas são emocionais, outras comportamentais:
- Busca por validação: curtidas e comentários funcionam como pequenas doses de dopamina. Sentir-se visto, apoiado ou elogiado pode criar um ciclo de dependência.
- Solidão e necessidade de conexão: compartilhar pode ser uma tentativa de se sentir menos sozinho ou encontrar acolhimento.
- Normalização cultural: estamos inseridos em uma lógica onde tudo é conteúdo. Quanto mais você mostra, mais engajamento conquista.
- Falta de limites digitais: a ausência de pausas e a naturalização da exposição fazem com que a fronteira entre o privado e o público fique borrada.
O oversharing pode parecer inofensivo, mas traz uma série de riscos, muitos deles invisíveis à primeira vista:
- Vulnerabilidade emocional: tornar públicas questões muito íntimas pode gerar arrependimento, mal-entendidos ou julgamentos.
- Roubo de dados e golpes: informações como localização, rotina e dados bancários podem ser usados por golpistas.
- Exposição de terceiros: ao compartilhar demais, é comum incluir outras pessoas sem o consentimento delas — especialmente filhos, amigos e parceiros.
- Reputação digital: o que vai para a internet dificilmente desaparece. Um post impulsivo pode voltar anos depois e prejudicar oportunidades pessoais ou profissionais.
A ideia não é censurar o uso das redes sociais, e sim reconquistar o controle sobre o que se compartilha e por quê. Algumas perguntas ajudam a frear o impulso do oversharing:
- Por que estou postando isso agora?
- Estou buscando atenção ou validação?
- Essa informação pode me prejudicar no futuro?
- Inclui alguém que talvez não queira estar aqui?
- Eu me sentiria confortável se um desconhecido visse isso?
O oversharing é um sintoma do nosso tempo: vivemos conectados, com a vida cada vez mais entrelaçada às telas. Mas compartilhar tudo o tempo todo pode ter um custo alto para nossa privacidade, segurança e saúde mental. Reaprender a dizer “isso é só meu” é, hoje, um ato de autocuidado.
Guilherme Serrano