Guilherme Serrano
Nos últimos anos, especialmente desde o início da pandemia da covid-19, um hábito tem se tornado cada vez mais comum entre os usuários da internet: o doomscrolling. O termo, sem uma tradução oficial para o português, pode ser compreendido como “rolagem da desgraça” ou “rolagem do juízo final” e descreve o comportamento compulsivo de consumir notícias ruins online por longos períodos, mesmo que isso gere ansiedade e angústia.
Doomscrolling (ou doomsurfing) une as palavras “doom” (que remete ao juízo final, destruição ou ruína) e “scrolling” (ato de rolar a tela para ver conteúdos). O termo ganhou popularidade durante a pandemia, quando o excesso de notícias negativas sobre a crise sanitária levou muitas pessoas a desenvolverem esse hábito de maneira inconsciente.
O dicionário Merriam-Webster definiu doomscrolling como a tendência de continuar navegando na internet em busca de más notícias, mesmo sabendo que isso pode ser prejudicial. Em agosto de 2020, o Dictionary.com escolheu o termo como “palavra do mês”, destacando sua relevância para a época.
Nosso cérebro é biologicamente programado para prestar mais atenção ao negativo do que ao positivo. Essa predisposição, que teve uma função evolutiva para a sobrevivência humana, nos faz dar mais valor às ameaças do que às boas notícias. O problema é que, na era digital, somos bombardeados com informações negativas o tempo todo.
As redes sociais e os portais de notícias são estruturados para nos manter engajados. Os algoritmos reconhecem nossas preferências e, ao perceberem que consumimos notícias de um determinado tipo, passam a nos oferecer conteúdos semelhantes. Dessa forma, um simples desejo de se manter informado pode rapidamente se transformar em um ciclo vicioso de doomscrolling.
O consumo excessivo de notícias ruins pode desencadear uma série de problemas psicológicos, como:
- Estresse: A exposição contínua a conteúdos negativos pode aumentar os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.
- Ansiedade: A sensação de que sempre há uma nova crise iminente pode gerar preocupações excessivas.
- Problemas de sono: A mente fica hiperativa, dificultando o relaxamento e causando insônia.
- Depressão: O acúmulo de informações negativas pode levar a sentimentos de desesperança e tristeza profunda.
- Ataques de pânico: Em casos extremos, o consumo incessante de notícias pode desencadear crises de ansiedade aguda.
- Sensação de isolamento: O excesso de notícias negativas pode afastar a pessoa do convívio social, aumentando a percepção de solidão.
Para reduzir os impactos negativos dessa prática, algumas estratégias podem ser adotadas:
- Defina limites de tempo para o consumo de notícias: Evite passar longos períodos navegando em redes sociais ou sites de notícias.
- Escolha fontes confiáveis: Prefira ler informações de qualidade, evitando sensacionalismo e fake news.
- Estabeleça um horário específico para se informar: Consumir notícias logo antes de dormir pode afetar seu sono e aumentar a ansiedade.
- Pratique atividades alternativas: Exercícios físicos, leitura, meditação e hobbies ajudam a reduzir o tempo gasto com doomscrolling.
- Use a tecnologia a seu favor: Aplicativos que monitoram o tempo de uso de redes sociais podem ser úteis para controlar a exposição excessiva.
- Evite discutir apenas temas negativos: Buscar assuntos positivos e diversificados contribui para um melhor equilíbrio emocional.
Guilherme Serrano