Guilherme Serrano
Se você tem dificuldades para lembrar o número de telefone dos seus pais, a data do próximo compromisso ou até o endereço de um local que frequenta com frequência, talvez esteja vivenciando um fenômeno cada vez mais comum na era dos smartphones: a amnésia digital.
O termo, cunhado por pesquisadores e especialistas em saúde mental, descreve a tendência de esquecermos informações simples e cotidianas que antes armazenávamos com facilidade. Tudo porque agora confiamos demais na tecnologia para lembrar por nós.
A amnésia digital, portanto, é a tendência de esquecer ou não memorizar dados que consideramos facilmente acessíveis por meio de dispositivos digitais. Acontece que a conveniência tecnológica nos dá uma falsa sensação de autonomia, quando na verdade estamos enfraquecendo, sem perceber, habilidades cognitivas essenciais, como a memória e a atenção.
Antes da popularização dos celulares inteligentes, era comum memorizar números de telefone, caminhos e aniversários. Hoje, confiamos essa tarefa a agendas digitais, aplicativos de localização e notificações programadas. O problema é que ao delegar essas funções aos aparelhos, deixamos de consolidar as informações na nossa memória, e se o cérebro percebe que não precisa gastar energia memorizando algo, simplesmente não o faz.
Uma pesquisa da Kaspersky Lab com mais de 6.000 pessoas mostra como isso se manifesta na prática: mais da metade dos entrevistados não se lembrava do telefone do próprio filho ou do local de trabalho sem consultar o celular. Um terço não conseguiria sequer ligar para o(a) parceiro(a) usando apenas a memória. Além disso, 79% dos participantes disseram usar a internet como uma extensão do próprio cérebro.
Para reverter ou, ao menos, amenizar os efeitos da amnésia digital, algumas dicas são:
- Exercite a memória ativa: tente lembrar de informações simples sem consultar o celular, como telefones, endereços e compromissos.
- Pratique o foco consciente: realize tarefas sem distrações e com atenção plena.
- Use a tecnologia com intenção: evite o uso passivo e automático do celular. Faça pausas digitais regulares.
- Estimule o cérebro com atividades analógicas: leitura profunda, jogos de lógica, quebra-cabeças e até escrever à mão são formas de manter a mente ativa.
- Limite o tempo de tela: especialmente à noite, para preservar a qualidade do sono e reduzir a sobrecarga sensorial.
A tecnologia trouxe inúmeros avanços para a vida moderna, mas também desafios silenciosos. A amnésia digital é um reflexo da nossa relação cada vez mais dependente dos dispositivos, que, se não for repensada, pode comprometer não apenas a memória, mas toda a nossa saúde mental. Reaprender a lembrar pode ser o primeiro passo para reconquistar a autonomia cognitiva que estamos perdendo, clique após clique.
Guilherme Serrano