Como as redes sociais podem influenciar as intenções de voto?

Redes sociais e eleições

Nos dias que antecedem uma eleição, as redes sociais se tornam um campo de batalha político, onde mensagens se espalham com velocidade impressionante, moldando percepções e, possivelmente, influenciando os resultados eleitorais. Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (CEPID NeuroMat), da Universidade de São Paulo (USP), sugere que campanhas digitais intensivas podem ser capazes de alterar significativamente as intenções de voto em um curto espaço de tempo.

A pesquisa surgiu a partir da análise das eleições presidenciais de 2018 e 2022 no Brasil, momentos em que se observaram grandes diferenças entre os resultados finais das urnas e as projeções feitas por pesquisas eleitorais poucos dias antes da votação. Os pesquisadores levantaram a hipótese de que campanhas massivas nas redes sociais possam ter causado mudanças rápidas e imprevisíveis na decisão dos eleitores.

Para testar essa ideia, os pesquisadores desenvolveram um modelo matemático que simula o comportamento das redes sociais em um cenário de polarização política. O modelo foi inspirado no trabalho do professor Antonio Galves, criador do modelo de redes neurais Galves-Löcherbach, amplamente estudado em neurobiologia, computação e estatística.

O estudo baseia-se no conceito de “filter bubble“, fenômeno descrito pelo pesquisador Eli Pariser, que se refere à maneira como algoritmos reforçam pontos de vista semelhantes dentro de grupos, limitando o contato com opiniões divergentes. No modelo matemático criado pelo CEPID NeuroMat, a rede social é composta por várias “bolhas sociais” que influenciam internamente seus membros, mas recebem pouca influência de grupos externos.

Em um ambiente de alta polarização, o modelo mostra que os indivíduos tendem a adotar rapidamente a opinião dominante dentro de seu grupo e que essa opinião se mantém estável por um longo período. No entanto, em determinado momento, essa estabilidade se rompe abruptamente, dando lugar a um novo consenso em sentido oposto.

Esse fenômeno, chamado de metaestabilidade, ocorre quando há uma mudança súbita e imprevisível de opinião dentro da rede social, o que pode explicar variações inesperadas nas intenções de voto durante campanhas eleitorais.

A influência das campanhas políticas digitais

Os pesquisadores também descobriram que essa mudança de consenso pode ser acelerada por influências externas, como campanhas políticas estrategicamente elaboradas para reforçar determinadas narrativas.

Esse efeito pode ser impulsionado pelo uso de influenciadores digitais e até mesmo pelo uso de robôs que artificialmente aumentam a visibilidade de certas opiniões, criando a ilusão de um consenso crescente. O modelo matemático sugere que, quando há alta polarização, essas campanhas são ainda mais eficazes, reduzindo drasticamente o tempo necessário para que um novo consenso se forme.

Na prática, isso significa que campanhas eleitorais bem planejadas para as redes sociais podem criar uma “máquina de construção de consenso”, promovendo mudanças de opinião em um curto período. Esse efeito poderia explicar por que algumas pesquisas eleitorais falham em prever os resultados finais quando campanhas digitais intensivas ocorrem nos dias que antecedem a votação.

Impactos para a democracia e a necessidade de regulamentação

Os resultados do estudo levantam questões importantes sobre a transparência e integridade dos processos eleitorais. Se as redes sociais são capazes de modificar rapidamente as intenções de voto, reguladores eleitorais precisam estar atentos a estratégias que possam distorcer artificialmente a vontade do eleitorado.

Além disso, novas investigações são necessárias para quantificar com maior precisão esses efeitos em diferentes contextos eleitorais e buscar formas de mitigar influências externas que possam comprometer a autenticidade do processo democrático.

Com as redes sociais se tornando a principal fonte de informação política para muitos eleitores, compreender essas dinâmicas não é apenas uma questão acadêmica, mas um elemento essencial para a proteção da democracia no mundo digital.

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