Guilherme Serrano
O mercado de trabalho de tecnologia no Brasil teve um salto entre 2012 e 2022, tendo registrado crescimentos de até 740% em algumas áreas, segundo um estudo inédito da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
Enquanto isso, outras ocupações mais tradicionais, como atividades administrativas e de atendimento ao público, sofreram uma retração significativa, com quedas de até 80% no número de postos de trabalho.
Com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, o levantamento analisou 30 ocupações que apresentaram forte crescimento no período.
Destaque para os engenheiros de sistemas operacionais, que tiveram um aumento de 741,2% no número de vínculos empregatícios, seguidos por pesquisadores em ciências da computação e informática (579,3%) e tecnólogos em gestão de TI (450,7%).
Em termos absolutos, as profissões com maior aumento no número de empregos foram:
- Analista de desenvolvimento de sistemas (+117.046 vagas);
- Programador de sistemas de informação (+72.332 vagas);
- Técnico de apoio ao usuário de internet (+36.372 vagas);
- Analista de suporte computacional (+32.536 vagas);
- Instalador-reparador de redes telefônicas e de comunicação de dados (+24.838 vagas).
Ao todo, as 30 ocupações analisadas somavam 445 mil vínculos empregatícios em 2012. Em 2022, esse número saltou para 868,1 mil, um crescimento de 95%.
Impactos negativos em ocupações tradicionais
A digitalização da economia também trouxe desafios. O estudo aponta que, em contraste com o crescimento das profissões tecnológicas, ocupações ligadas a áreas como vendas, cobrança e atendimento ao público sofreram retração. Nos últimos 10 anos, foram fechados cerca de 1,3 milhão de vagas em 30 dessas ocupações.
Os cargos com maior perda de vagas em números absolutos foram:
- Auxiliar de escritório (-390.100);
- Vendedor de comércio varejista (-278.117);
- Cobrador de transportes coletivos (-99.814).
Em termos relativos, as maiores quedas foram para:
- Monitor de teleatendimento (-88,4%);
- Teleoperador (-86,4%);
- Operador de cobrança bancária (-83,1%).
Tendências confirmadas no Brasil
O estudo da Fecomercio-SP também comparou os dados brasileiros com análises internacionais, incluindo relatórios do Fórum Econômico Mundial (2023) e da Organização Internacional do Trabalho (2019). Os resultados confirmam que, globalmente, profissões ligadas à tecnologia estão crescendo mais rápido do que as funções tradicionais.
“A tecnologia pode (e vai) gerar muito mais transformações econômicas e sociais, bem como no mercado laboral. Mas isso depende dos níveis de digitalização do mercado consumidor, das empresas e da força de trabalho. Além disso, fatores econômicos, trabalhistas e regulatórios desempenham um papel importante na absorção da inovação”, afirma Jaime Vasconcellos, assessor da Fecomercio-SP.
A tecnologia, portanto, está moldando o futuro do trabalho no Brasil e no mundo. Contudo, ao mesmo tempo em que gera oportunidades promissoras, essa realidade também exige uma adaptação significativa por parte das empresas e da força de trabalho. Isso inclui não apenas a capacitação em áreas tecnológicas, mas também a criação de políticas que incentivem a inovação e tornem a transição do mercado de trabalho de tecnologia mais equilibrada para todos os setores.
Guilherme Serrano