O X (antigo Twitter) ficou fora do ar no Brasil por 40 dias, período que incluiu o primeiro turno das eleições municipais em todo o país. No próximo dia 27 de outubro, eleitores de 15 capitais vão às urnas novamente, desta vez com a plataforma no ar. Com isso, levantaram-se alguns debates sobre como eleições e redes sociais se relacionam, o que inclui discussões sobre a disseminação de fake news e discursos de ódio durante o período eleitoral.
Tradicionalmente, as principais mídias à disposição dos candidatos eram o rádio e a televisão, que impunham limites ao conteúdo das campanhas, dificultando a propagação de informações falsas ou agressivas. No entanto, as redes sociais mudaram essa realidade, tornando-se um espaço quase irrestrito para a circulação de ideias. Além disso, a internet se consolidou como ferramenta fundamental para movimentos sociais e políticos, como foi o caso das manifestações de 2013, que mobilizaram milhões de brasileiros.
Apesar de possibilitar maior engajamento social, o uso político da internet nem sempre tem consequências positivas. Candidatos rapidamente perceberam o poder da internet para influenciar a opinião pública, o que muitas vezes é feito com base em informações falsas ou distorcidas. Nesse contexto, termos como “fake news” e “milícia digital” tornaram-se comuns ao vocabulário do brasileiro, descrevendo a disseminação intencional de desinformação com o objetivo de manipular resultados eleitorais.
Para entender um pouco melhor esse cenário, o Núcleo de Estudos da Violência da USP realizou um monitoramento das redes sociais nas eleições de São Paulo em 2024. A pesquisa revelou que plataformas como Instagram e TikTok possuem maior poder de engajamento em comparação com Twitter e Facebook, e que os algoritmos contribuem para a visualização de conteúdos políticos.
O estudo teve como objetivo entender as interações entre direitos humanos, segurança pública e opinião pública a partir da análise do papel das redes sociais nas eleições. Entre as principais conclusões estão:
- Frequentemente, conteúdos políticos acabam sendo misturados com outros tipos de postagens, o que pode gerar confusão no público
- O material produzido pelos candidatos nem sempre chega diretamente aos eleitores, que o visualizam por meio de perfis paralelos
- Entre os principais temas dos candidatos oriundos setor de segurança pública, destacam-se os discursos sobre vigilância, como o uso de câmeras corporais
- Entre os jovens os debates mais comuns giram em torno de questões ideológicas, como perfis raciais.
- Os algoritmos facilitaram o rápido crescimento de alguns perfis. No entanto, isso cria cenários mais complexos, em que o usuário nem sempre tem acesso direto à informação
Diante disso, a necessidade de regular as redes sociais é tema de debate. Para alguns, a regulação é essencial para manter a democracia, uma vez que restringiria discursos de ódio e informações falsas. Outros argumentam justamente o contrário, afirmando que isso poderia ferir a liberdade de expressão. De qualquer forma, a relevância das redes sociais para as eleições é inegável, como mostra uma pesquisa do DataSenado, que revelou que 81% dos entrevistados acreditam que as fake news podem impactar fortemente os resultados eleitorais.
A fim de minimizar esses riscos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) trouxe novas regras para a propaganda eleitoral no pleito municipal de 2024. De acordo com o órgão, a livre manifestação de pensamento por meio da web é permitida. Contudo, a propaganda online poderá ser objeto de limitação se ofender a honra ou a imagem de candidatas e candidatos, partidos, coligações ou federações partidárias, ou ainda se ou divulgar fatos sabidamente inverídicos.
É possível concluir, portanto, que eleições e redes sociais estão criando uma relação cada vez mais próxima com o passar dos anos. Resta entender como a sociedade e os próprios órgãos políticos vão lidar com a questão para garantir a lisura das instituições e a sobriedade do discurso.